Sobre o Mistério do Olhar Humano sob a influência de "O Segredo Em Seus Olhos"
Por que o olhar é tão misterioso, excitante, enlouquecedor?
Por que o olhar tem tanta influência sobre nós?
Alguns afirmam que o olhar é o portal para nossa alma, que
um olhar apenas basta para mudar o curso de sua vida.
Olhar distraído, olhar desejoso, olhar indiferente, olhar
displicente, olhar teimoso, olhar maldoso, olhar inocente. Como poderia um par
de olhos expressar tantas abstrações?
O olhar não muda. É o mesmo sempre. O que muda é nossa
expressão facial.
Assim como a essência não muda, permanece em constante
ataraxia. O que muda são as máscaras.
Talvez o olhar nem signifique tanto. Talvez gostemos da ideia de
sermos notados. Não importa como. É bom que nos certifiquemos de nossa própria
existência ao perceber olhos que pousam em nós, como borboleta atraída pelo
pólen. Como borboletas... Que voam pra ver a vida antes que ela se esvaia.
Onde sua inexorável presença invade minhas palavras
Presença esta que teima em se deixar estar, mesmo depois da morte do mundo, mesmo depois da morte de mim, de minha esperança. Sua presença disse-me a priori que ficaria só por uns instantes, só precisava de um chá quente e uma lareira para se aquecer e partir. Sua presença gostou da minha sala de estar, e com o tempo, fixou-se ali, depois, sua presença alastrou-se para todo o meu ser, até que separar o conceito de "eu" e "você" tornou-se impossível. Tragicamente impossível imaginar-me em um mundo onde seus olhos tenham perdido o belo tom esverdeado que me persegue até hoje.
“Não importa se teu olhar é indiferente, desprezador, não importa.
Desde que ele seja meu por um instante.”, escrevera eu um dia em delírios de
amor juvenil. Delírios do único amor, que pode ser chamado assim. Amor.
E há sensação mais extasiante e inebriante do que encontrar o
olhar do teu amor a te espiar de volta?
No final, sou uma criatura feita para o amor. Somos. Porém sempre
tive uma predisposição a acreditar que o amor existe. E fadas e riso e sinos na
hora do primeiro beijo. Bondade, príncipes generosos, sociedade igualitária,
comida para todos. Acreditava cegamente nisso quando criança.
Até que minha utopia se transformou em distopia com o tempo.
Teu olhar tornou-se frio, Henrique.
Mais frio do que o inferno que um dia disseste que enfrentaria
para me buscar, tal qual Orfeu. Mais frio do que Niflheim, num crossover de mitologias.
E não estou
divagando, pois esse texto, assim como minha alma e minha essência, logo, tudo
em que eu toco e tudo em que eu penso e tudo o que eu faço, resume-se a você.
Ao teu olhar.
E sabes bem
que passávamos horas a fio madrugada adentro conversando sobre as tais
mitologias.
Inocentemente
conversando sobre as mitologias...
Contudo, não pretendo fazer à moda de Eurico, não. Aprendi com o
Presbítero aos 16 anos, com um de meus heróis do Romantismo.
Afinal, desde cedo, fui criada para sonhar com o já esperado sonho
utópico do amor acima de tudo. O tal sentimentalismo exacerbado de que tanto te
falei outrora.
Não desistirei do teu amor, não. Embora já o tenha feito no
momento em que te encontrei.
Não desistirei do teu amor. Apesar de estar interpretando o papel
inverso nessa história. Tu, minha Hermengarda travestida. Tu que não estás
preso, impedido de dar-me um aval que garanta minha sanidade. Tu que foi-se por
vontade. Tu...
Apenas tu...
Contudo, hei de resistir à vida.
Hei de permanecer na eterna espera do não sei o quê.
Hei de esperar-te. Não me entregarei a mais uma ilusão de
conforto. Tu és já desde cedo meu único possível conforto.
Minha obsessão. Tal qual Carlota assim o era para Werther.
De novo os papéis estão invertidos, meu Carlota dos olhos verdes.
Ainda bem que não preciso mais fingir que sou eu quem te desengana
e te deixa à mercê de tua inútil vassalagem. Ainda bem que posso assumir minha
condição de mulher humilhada, rasgada, borrada, desfocada, desamada e
desalmada.
Pois o amor e a alma, meu amor, tu levaste consigo.
Quando a torpe ciência fascina-se pelo Amor, suas causas e consequências
O megalomaníaco médico nazi-fascista se admira dos destroços do que outrora caracterizara felicidade. Ele sadicamente ri-se sozinho, admirado dos poderes que a psique humana pode ter sobre uma alma sensibilizada. Ele sadicamente balança a cabeça em sinal de incredulidade com um sorriso assustador em seu rosto. Com olhos grandes comenta com seu ínfimo ajudante que apenas concorda com tudo com uma cara assustada.
“Incurável”, os médicos diriam mais tarde. “Irrecuperáveis estes
estilhaços dos teus órgãos.”
“Aparentemente viveram muitas emoções e aventuras inimaginadas em imaginação inimaginável, doutor”, dissera o ajudante neste episódio.
“Aparentemente viveram muitas emoções e aventuras inimaginadas em imaginação inimaginável, doutor”, dissera o ajudante neste episódio.
“Sem dúvida estes árcades estilhaços alçaram o voo mais alto e
mais entediantemente imóvel e baixo já feito na história! Vê essas marcas,
essas fissuras? São provas do que te digo, Watson. Que história magnífica! Que
avanços tais frágeis órgãos trariam aos estudos de Freud caso não houvessem
sido destruídos...”
Os dois continuaram distraídos numa discussão sobre árdua entre o
médico que defendia Freud e o ajudante que defendia Jung.
Como a realidade dos fatos me entedia, parti levando comigo os
destroços pesados de minha alma e de mim mesma comigo. Desprezada eu,
desprezados os destroços. Desprezado o Amor.
Percebe, Henrique? Percebe que tudo gira para mim em torno do
Amor? Algumas linhas e aqui estamos nós de novo no assunto central do ser
humano.
Porque acredito que o Amor é o que nos diferencia de tudo o mais.
É claro, nossas células, mitocôndrias, hipófise, cérebro altamente
desenvolvido, polegares opositores, capacidade de modificar a natureza e
produzir tecnologia, blá blá blá.
Mas o que importa mesmo é o Amor. É dele que estamos falando. É da
alma, do abstrato, do mistério, dos Símbolos. Não dos entediantes fatos. Não
gosto das leis da Física e as impossibilidades que trazem. Por que deveria falar sobre elas?
Sim, pois as impossibilidades são elas que trazem. Há um tempo
atrás um homem um pouco desiludido e muito engajado provara tal afirmação com o
simples argumento de que “2 + 2 = 5”, se todos acreditarem que assim seja.
Contar-lhes-ei um segredo, leitores. Por mais que as vezes pareça
que saí do foco deste emaranhado de notas de uma alma um pouco perturbada, em
que a única presença certeira e indubitavelmente verdadeira é um nome sibilado ao vento e um par de olhos na memória, que de tão obsessivamente admirado por noites inteiras em
claro, hoje encontram-se desgastados, desfocados, descoloridos. Por mais que eu não esteja falando literalmente dos tais olhos, o foco permanece o mesmo. O foco é sempre você, meu amor. O centro de
tudo parou de ser eu. O centro é você. O universo é você. E eu me perdi... Está
tudo tão escuro que eu me perdi. Você é tão grande e habita em essência uma
extensão tão vasta que não sei mais... Começo a confundir as palavras com você.
E tudo passa a possuir tua forma. Tua deturpada forma aos meus olhos
ineficientes e fracos. Porque tua real forma é inalcançável para mim.
Conformo-me com tua sombra.
Sabem dessa citação? De George Orwell? O tal livro foi
recomendação do meu objeto de adoração. Como tinha de ser, tudo que eu falo é
apenas uma coisa só.
Sabem dessa referência ao Mito da Caverna? Discutíamos isso
também. Meu olhar de São Francisco conhecia bem "A República". Enquanto
discutíamos o Estado, eu escondia meu pueril pensamento de que nada daquilo
importava. Eu já tinha alcançado a luz. A luz era ele.
A luz do olhar dele parecia guiar o meu caminho. Ele me ensinou a
andar e a amar.
Amar com o tal Amor que até agora não defini.
Voltamos para o misterioso Amor.
Sabe por que acho que o Amor é superior à Razão? Porque uma pessoa
triste ou estressada não desconta suas frustrações dos fatos num livro do Kant.
Ela assiste a uma novela mexicana.
Que minha real dor e meu real sofrimento sirva-lhes de novela
mexicana, então. Que minha dor sirva-lhe de entretenimento, amor. Ao menos
assim sei que despertei-lhe qualquer sentimento que seja.
Acordei o teu olhar, por mais que não o possa ver.
Uma risada, ao menos. Tua desengonçada risada que para mim parecia
perfeita. Parecia-me o som mais contagiante. Ensurdecedor. Deliciosamente
ensurdecedor.
Tudo que eu disse, tudo que escrevi, aquele caderno com a capa do
pôr-do-sol, aquele caderno piegas que um dia te dei. O que escrevo agora...
Tudo deve soar tão ridículo para você...
Sinto tanta falta do tempo em que você conseguia entender meu
ardor, minha linguagem, só minha. Minha inconstância e minha dor de viver...
Sinto tanta falta do tempo em que me amavas...
E o que é o Amor, meu amor?
Digo-lhe que estou quebrada e incompleta, logo, incapacitada
para responder-lhe.
Como hei de responder o que é o Amor, se levastes o meu
consigo? Levastes até minha alma! Encontro-me despida de todo. Como hei de
responder com cores se os pincéis, as tintas e a musa foram-me tirados?
Resta-me dizer que o amor é Ocitocina e algumas reações
químicas?
Não, leitores, não vou enganá-los como fizeram os ratos da
ciência.
Fazem-te engolir a força a realidade fria que nem ao menos
têm certeza.
Fazem-te esquecer de sonhar e pintar o mundo ao teu próprio
modo.
Eu perdi minhas cores, leitores. Não me arrependo de tê-las
perdido. Percam-nas também, alcem os tais voos altos e baixos da psique. Percam
as cores... Embora eu esteja torcendo para que elas optem por ficar. Eu sempre
torço pelos finais felizes. Pelo Amor.
E o Amor? Resta-me responder-lhes que o Amor tem apenas um
nome para mim.
O Amor tem cor, tem rosto, nariz, boca.
O Amor é. O Amor vive, o Amor toca em uma banda, o Amor
gosta de Deftones, Seinfeld e Tarantino.
O Amor tem olhos.
Olhos verdes.
O Amor tem um nome. O seu nome é Henrique. Talvez não seja o
Amor mais forte, puro e idealizado que existiu no mundo.
Embora eu ache que fomos e somos o casal do século. Uma
raridade, uma gema preciosa no meio de calcário desprovido de graça ou beleza.
Embora eu ache que tivemos e temos e tenho o Amor maior e
idealizado.
Afinal, meu finado Amor encontrou uma alma afetada para
depositar as esperanças por um tempo. Um curto e feliz tempo.
Talvez ele não seja o mais bonito...
Mas é o meu. E, portanto, é único para mim. E o único que eu
quero. Para sempre.
Até o fim de nossa história que já acabou. Porém se repete
em um loop infinito em minha mente ensandecida de Amor.
Contento-me e fecho-me na esperança desesperançada da
espera. Espero. Não sei se por você, não sei se pelo fim de tudo, inclusive da
dor.
Preferia que fosse você.
Apenas você...
O Amor, leitores, é tudo aquilo que te faz perder a noção do
tempo, do espaço. É tudo que te faz quebrar as leis da Natureza. Tudo que te
enlouquece de uma forma agradável. Um parasita que você abriga com prazer no
maior quarto. A definição é tua. As cores são tuas. Assim como as escolhas. Não
deixe que extingam-se as cores e as chamas.
Guarde bem as memórias e as dores na mochila e siga em sua
busca incessante pelo que você não sabe o quê, que está dentro de você. Ame e
faça com que o olhar permaneça vivo e colorido como o jardim ao qual as
borboletas são atraídas pelo pólen...
Fuja do fel, olhe para o céu e se veja em uma nuvem.
Minha nuvem, assim como meu universo, tem apenas uma forma.
Minha nuvem são teus olhos, Henrique. Onde eu me vejo tão claramente quanto nas
nascentes translúcidas do Rio São Francisco. O espelho me mostra a sombra,
minha sombra. Teus olhos me mostram quem eu sou ao observada na luz. Teus olhos
me fazem mais certa do que eu jamais fui de quem eu sou. E de repente, meu
destino e minha vida parecem tão claros e tão simples, que me sinto uma tola
por ter duvidado de que você é meu destino e minha vida. Você é tudo e está em
tudo. Mesmo nesse instante, em que te escrevo, onde o céu está desprovido de nuvens.
Mesmo sem saber onde estás, sei que estás em eterna vigília.
Prometestes-me. E tua alma há de cumprir, pois teu corpo pode não perceber, mas
nossos olhos não se enganam. Somos um só. Somos um pedaço deformado de Ser que
se completa. E somente juntos, podemos sentir-nos plenos.
Eu sei que estás comigo, meu amor. Meu olhar sabe, teu olhar
é meu.
Queria mostrar-te isso, meu amor. Como um dia te mostrei
páginas impensadas de confissões anteriores. E você estava tão feliz ao ler
minhas palavras...
Por que mudaste? Por que paraste? E o que dirias se lesse
tais disparates?
“Ririas...!”
But you're not gonna stop, I know how you are.